Travessia Mar Grande fazendo história

Quando José Liberato de Matos venceu no braço, o que antes era feito pelas embarcações,
atravessar os 12 mil metros de natação, da Ilha de Itaparica a Salvador, passou de desafio impossível a um compromisso de todo ano.


Desde 30 de janeiro de 1955, data em que Liberato entrou para a história como campeão da Travessia Mar Grande/Salvador, promovida pelo Grupo A TARDE, a série de inscritos varia de novatos a quem já nadou em outras edições.


Este ano, por exemplo, são 124 participantes na 47ª Aquarius Fresh Travessia Mar Grande/Salvador, no próximo dia 17 (domingo), com largada às 8 horas.


Ao longo de suas edições, a prova se firmou como a mais antiga maratona aquática do País, produzindo personagens, histórias e a tradição de manter o apelo aos nadadores, que passam o ano se preparando.


Se Liberato foi o primeiro a vencer, a engenheira da Petrobras, Marília Barreiros, quebrou o tabu de que mulher não poderia concluir o desafio. Em 20 de janeiro de 1957, ela se tornou ao mesmo tempo a primeira campeã e a única mulher da época a completar a prova, que embora completando 55 anos, está na 47ª edição. De 1970 a 1979 , foi suspensa.


Antes de Allan do Carmo e Ana Marcela, principais nomes da atualidade a subirem ao pódio, a soteropolitana Janaína Soares e o juazeirense Lourival Quirino conquistaram uma série de títulos cujo número ainda não foi igualado. Janaína detém o posto de pentacampeã e Quirino o de tetra.


Marca não alcançada nem mesmo pela nadadora olímpica Ana Marcela, que, no entanto, é a mais jovem campeã da travessia, aos 13 anos. Ela também cravou uma marca difícil de ser repetida: em 2008, venceu a prova chegando à frente também dos 85 homens que conseguiram completar o desafio.


As marcas da travessia estão por toda parte, funcionando como apelo aos nadadores que ainda não sentiram o gosto de participar, agendar-se para tal num futuro próximo.
É praxe, aos que já fizeram várias travessias, assumirem o compromisso de nadá-la a vida toda.


Há aqueles que garantem não cansar de completar os 12 quilômetros e a longa fase de preparação, que toma praticamente o ano todo. Juram amor eterno à travessia e fazem dela motivação para se manterem na ativa no ano seguinte.


Não cansam - Um exemplo é a veterana Desirée Dalia, 49 anos, prestes a fazer a 18ª edição. O salva vidas Jardiel Luquine Neto se inscreveu na 14ª, provando que passados 55 anos o desafio continua atraindo nadadores de todas as categorias.


De 1955 para cá, mudaram os objetivos. No começo, o nadador desejava apenas completar e virar herói. Hoje, os competidores desenvolvem estratégias e brigam pelas primeiras posições no pódio.


Mesmo quem não tem chance de ficar entre os mais rápidos, é obrigado a concluir em no máximo 4 horas. Após esse tempo, a Marinha exige que os atletas sejam retirados de barco para liberar o tráfego de navios.


Motor - A travessia é um exemplo de como uma distância de 9.900 metros aumenta para 12.000 metros ou mais, quando se faz o percurso nadando, ao invés de utilizar uma embarcação. Como o barco conta com a força do motor, pode fazer o percurso em linha reta, cumprindo menos de 10 mil metros.


O nadador, no entanto, é obrigado a cumprir uma trajetória condicionada às correntes e ventos, o que alonga o percurso para 12 mil metros. Basta ocorrer erro na estratégia, a maré mudar ou o guia se equivocar e conduzir o atleta para longe do funil. Há casos em que o nadador fez até 14 quilômetros.


Mas nenhum ano foi como 1960. Não houve campeão geral ou por categoria. “O mar virou e todo mundo teve de subir no barco. Ninguém completou”, esclareceu Sérgio Silva, presidente da Federação Baiana de Desportos Aquáticos (FBDA), parceira do Grupo A TARDE na organização do desafio.


“Este ano, vamos ter o cronômetro na Praia do Porto da Barra, acionado via rádio, e 16 barcos de apoio”, avisa Silva.

Fonte: http://www.atarde.com.br/