Manhã do dia 21 de janeiro de 2010, praia de Boracéia, Bertioga, SP, é encontrado morto em sua casa o ex-nadador Moacyr Rebello dos Santos. Ali vivia sozinho, acordando com o cantar dos pássaros. Exílio voluntário.
Bem cedo, no anos 1950, aos 11 ou 12 anos, começou a nadar no Saldanha da Gama, em Santos. Baixo, magro de corpo, caixa toráxica avantajada e uma sunga verde de lonita, daquelas que se faziam em casa. Ganhava todas as provas. Batia todos os recordes. Em qualquer estilo. Sem exceção.
Não treinava. Indisciplinado, fazia questão de desobedecer aos técnicos. Mas quando se lançava à água, se transformava. Em poucos anos, aí no Internacional de Regatas, tornou-se campeão santista, paulista, brasileiro e sul-americano. Um fenômeno. Era um esportista nato. Jogava bem volei, pólo-aquático e, com um humor peculiar, gostava de dar salto mortal no meio de uma conversa, deixando o interlocutor atônito.
Lá pelos 20 anos abandonou a natação e passou a ser técnico. Formado em Educação Física, treinou e formou novos campeões. Mantinha um enorme rol de amizades (jamais usaria a expressão networking), incluindo de São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre outras cidades.
Participou por pouco tempo de campeonatos de masters. Comia em excesso e o peso era obstáculo a qualquer atividade esportiva. Parou.
E assim levou a vida. Cozinhava bem, gostava de contar passagens engraçadas, era amigo dos amigos. Indomável, internado certa feita em razão de um aneurisma cerebral, fugiu do hospital, pondo em pânico sua família.
A morte de Moacyr, de certa maneira, simboliza a morte de uma época. O fim de um tempo em que se ria mais, em que o esporte era mais prazer do que dever e se praticava por gosto e não por patrocínio.
Se tivesse sido um nadador disciplinado, com certeza ele ganharia medalha de ouro nas Olimpíadas e todas as honras que se concedem aos vencedores. Bem, mas daí não seria o Moacyr. Os que dele gostavam queriam-no como foi.
No céu, certamente já está reivindicando uma piscina de 50 m e deve estar preparando uma equipe para competir com o pessoal do purgatório. Que descanse.
Vladimir Passos de Freitas
Desembargador Federal aposentado, professor doutor de Direito Ambiental, PUC/PR
sábado, 30 de janeiro de 2010
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