Cristina Camargo
Agência BOM DIA
Para o nadador Paulo Eduardo Corrêa Júnior, 40, a afirmação de que o esporte é fundamental para uma rotina saudável está longe de ser um chavão cansativo.
É que o esporte literalmente salvou a vida dele.
Aliada ao apoio familiar e à terapia, a natação o livrou do consumo de drogas e álcool e de uma forte depressão que o deixava trancado no quarto, sem disposição.
Paulo aprendeu a nadar ainda na infância, estimulado pelo pai. Depois parou, cansado das exigências nos treinamentos e da pressão das competições, tudo muito pesado para um pré-adolescente. Seguiu seu cotidiano de estudante e entrou na faculdade de engenharia química, em Maringá (PR).
Até que começou o calvário. No início da vida universitária, Paulo perdeu a única irmã. Ana Paula, 17, praticava paraquedismo e num dia de saltos em Marília o equipamento não abriu.
Os dois eram bastante unidos desde a separação dos pais, fato marcante na infância dos irmãos.
Quarenta dias depois, Paulo perdeu também o padrasto, atropelado ao sair de uma pizzaria. Com a mãe, mudou de casa, de bairro e de vida. "Foi bem traumatizante", lembra.
As tragédias o transformaram em "loucão", como define. Bebia tudo que encontrava e usava drogas.
Tinha amigos, trabalhava, tentou cursar várias faculdades, mas não tinha objetivos para alcançar. Vivia na noite, cada vez com amigos mais jovens.
Aos 29 anos, infeliz e desmotivado, entrou em depressão. Conta que a família rezava muito por sua recuperação. Até que um dia saiu do quarto e resolveu mudar. Escolheu a natação para começar a recuperar a forma física e a saúde.
Lembra até hoje o dia em que voltou a nadar: 12 de abril de 1999. Nessa época, só saia de casa para ir à piscina da antiga sede social do BTC (Bauru Tênis Clube).
No ano seguinte, foi estimulado por outros atletas a participar de competições, o que fez em março de 2000.
Paulo ganhou o Circuito Paulista de Natação Master do Interior. Levou três medalhas e decidiu: "É isso que vou fazer na vida".
O atleta ainda se comove ao recordar a sensação de sair vencedor da primeira competição. Ele pendurou as três medalhas no carro e circulou pelas ruas de Bauru chorando de emoção.
"Passei a ter objetivos", diz. Eram nadar e competir. A partir daí, buscou orientação profissional, conseguiu patrocínios, parou de fumar, de beber e de usar drogas.
Em 2003, após dedicação intensa, com muita disciplina, foi campeão brasileiro de natação master. Neste ano também casou com a advogada Elisângela, que faz questão de lembrar ao falar sobre a importância da estrutura familiar.
Hoje o nadador sente nojo até de bombom de licor, mas tem consciência de que o alcoolismo é uma doença que precisa ser controlada. Tem que lembrar que é alcoólatra para não beber.
Vive outra fase, quer apagar os anos ruins, olhar no espelho e ver o atleta bem sucedido que conseguiu ser.
Formatura em universidade é vitória
Após tentar cursar engenharia química, direito e administração, Paulo Corrêa conseguiu em janeiro deste ano o que não imaginava mais alcançar: formou-se em educação física pela Unesp de Bauru.
O nadador encontrou no curso sua vocação. Passou quatro anos frequentando a universidade sem participar sequer de uma festa estudantil. Fez vários cursos extras e virou um personal trainer respeitado, cheio de alunos.
No início da faculdade, queria ser técnico de natação, mas descobriu que não se adequa à realidade extremamente competitiva do esporte atual.
"Hoje o esporte competitivo está um pouco desvirtuado e deixa de lado a saúde", diz. "Há pressão de todos os lados, é vencer a qualquer preço e a saúde passa longe".
Paulo ainda compete como master, mas sem o desespero que antes sentia. Perdia até a fome nas semanas de competições.
Outra decepção foi ver a piscina olímpica, coberta e aquecida do BTC ser desativada após a venda da sede social do clube.
As equipes de natação tiveram que se transferir para a sede urbana da Associação Luso Brasileira.
"Fomos muito prejudicados", lamenta. "Faltou darem o devido valor à natação".
Planos
Como personal, o atleta ajuda os alunos a manter a saúde em dia. E no mês que vem volta a atuar como voluntário na Casa do Garoto, ensinando natação para as crianças da entidade.
"Quero retribuir o que já tive", afirma.
O atleta não gosta muito de vincular suas tragédias à dependência química. Lembra que muita gente passa por tristezas sem aderir ao álcool. Admite que usou as perdas sofridas para justificar seu estilo de vida.
Mas tudo passou e o Paulo de agora é outro.
Formado, trabalhando, saudável e bem casado, agora planeja o primeiro filho, que vai estimular a nadar se essa for a vontade da criança, sem forçar nada.
Ele pretende nunca mais abandonar as piscinas.
"Eu amo nadar, não consigo ficar sem fazer isso", explica. "A natação salvou a minha vida".
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