domingo, 14 de fevereiro de 2010

LEMBRANÇAS DO MOACYR REBELLO DOS SANTOS

No mês passado, no dia 4 de Dezembro de 2009 conseguimos fazer um encontro inédito nO Esporte Clube Pinheiros. Reunimos aproximadamente 85 esportistas aquáticos (natação, polo aquático e saltos ornamentais) dos anos 50 e 60.
Muitos desses esportistas não se viam há mais de 40/50 anos. Eu conhecia o Moacyr Rebello dos Santos de longa data, da década de 50, quando nadavamos numa equipe muito forte no Clube Internacional de Regatas de Santos. Na segunda metade da década conseguimos ser campeões Santistas, Paulistas e Brasileiros, fato raro para equipes de fora das grandes capitais.
O Moacyr se destacava entre nós por varias carateristicas. Uma delas era a de nadar todas as provas. Imaginem um nadador que nadava 800, 400,200, 100 metros livre, 100 e 200 costas, 100 e 200 nado de peito e ainda 100 e 200 nado borboleta. E nadava ainda muito bem as travessias. Ele tinha uma forma física invejável e qualquer prova que entrasse tinha-se que ficar de olho nele porque ele vinha para disputar a prova. Outra característica do MOA era o alheiamento à disciplina, regras ou ao treinamento muito rígido. Era um bom rapaz, mas seu comportamento era imprevisível.
Nos últimos 20 anos eu me encontrava todo ano com ele nos encontros que tradicionalmente reune os ex nadadores do Clube Internacional de Regatas no fim de ano na Ilha Porchat ou no Guaruja.
Como ele, também, nadou pelo E.C. Pinheiros na década de 60, convidei-o para vir ao nosso encontro em São Paulo, e ofereci para ele ficar na minha residência.
Ainda emocionados com o evento, onde pudemos rever a maioria de nossos amigos de equipe do passado, fomos para casa e pudemos bater um longo papo. Do seu entusiasmo de rever os amigos nasceu a idéia de se fazer um encontro dos nadadores santistas dos anos 50 e 60. Ele aproveitariae convidaria, também, os seus amigos que com ele nadaram os campeonatos sulamericanos e panamericano. Ele imaginava vendo todos eles reunidos e se prontificou a coordenar o trabalho. E eu me propus a ajudá-lo.
No dia 18 de Dezembro na nossa reunião anual do grupo do INTER, no Guaruja, ele começou a me listar os nomes dos nadadores que lembrava e que queria ver no encontro.
Eu deveria fazer uma planilha para ele. Teríamos 10 meses para identificar e localizar os que faltavam.
O Moacyr me contou ainda como, quando criança, talvez com 11 ou 12 anos, pulava o muro do Clube Saldanha da Gama, na Ponta da Praia, em Santos, para ir nadar escondido na piscina do clube, até que um dia o pegaram. Quando os seguranças iam levando ele para a rua, o técnico pediu para falar com ele e quis saber se ele sabia nadar.
O Moacyr então nadou 20 metros na piscina e o técnico gostou. Convidou ele então para treinar regularmente no clube e competir.
Dessa forma não precisaria mais pular o muro.
Nesse ano o Moacyr participou do campeonato infantil da Liga Santista de Esportes Aquaticos e ganhou as provas que nadou.
Se não me engano esse técnico era o Prof. Euny que foi técnico de grandes nadadores santistas inclusive do nadador Haroldo de Melo Lara que competiu nas Olimpiadas.
São muitas as histórias que envolvem o esportista Moacyr Rebello dos Santos, na natação nacional e internacional, Jogos Abertos, Jogos Militares, travessias, atletismo, voleibol e eu vou contar aqui uma delas com mais detalhes. Historia essa cpnfirmada por ele mesmo durante o nosso longo papo.
Por volta de 1964 ele treinava em Santos e nadava pelo E.C. Pinheiros. O técnico do ECP era o Bruno Bucchi que conhecia bem a fama do Moacyr e ficava com um pé atrás com ele, principalmente com relação ao treinamento em Santos, sua real performance e também com as traquinagens que ele aprontava. Mesmo assim o convocou para integrar a equipe que ia disputar o Campeonato Brasileiro no Rio de Janeiro - RJ.
A prova que o Moacyr ia nadar era à tarde, às 14:00, os 100 metros borboleta. Me contou ele que decidiudar um pulo na praia na parte da manhã e lá nadou, jogou futebol, bateu papo com umas meninas, comeu coisas nas barracas e perdeu a noção da hora. Quando viu já era 13:30.
Saiu correndo, pegou um taxi e chegou na piscina quando os nadadores já estavam se preparando para prova. O técnico Bruno estava furioso. Soltava uma bronca pesada e ameaçava não mais convocá-lo para a equipe. Ia romper com ele definitivamente.
A prova ia ser muito disputada devido ao confronto de nadadores de borboleta famosos como Luiz Ricardo Simi, Daltely Guimarães, e se não me engano também o Roberto Pavel.
Logo em seguida chamaram a série principal e lá foi o Moacyr sem fazer aquecimento, sem preparação nenhuma. Ele subiu na baliza ainda cheio de areia da praia. Dada a largada o Moacyr saiu bem e conseguiu virar nos 50 um pouco atrás do primeiro
grupo.
Mas logo em seguida começou a notar que estava se sentindo muito bem. Decidiu então começar a forçar e nos últimos 10 metros conseguiu emparelhar com o grupo que liderava a prova. Acabou vencendo por batida de mão.
Ninguém acreditava no que tinha ocorrido.
Olhou para o Bruno e ele ria. Conhecendo o Bruno, ele deve dito para o pessoal : "Só o Moacyr mesmo.. esse moleque ainda me mata do coração".
Histórias como essa existem dezenas e dezenas do nosso querido amigo Moacyr. Talvez seus amigos resolvam contar com suas palavras outras aventuras dele. Alguem recentemente disse que as histórias são tantas que daria para escrever um livro.
Termino esta narrativa com um texto que o MOA deixou na sua pagina no Orkut, que esta online ainda hoje.

"SOU SIMPLES, GOSTO DAS COISAS BELAS DA VIDA COMO
NADAR, QUE FOI O MOTIVO DE MINHA SOBREVIVÊNCIA E
ONDE VIVI A MINHA ETERNIDADE. JÁ FUI AGITADO MAS
HOJE QUERO PAZ , NO MEU CANTINHO AQUI NA MINHA
BORA-DORA."

E buscando a paz, no dia 21 de janeiro, lá se foi o nosso amigo .. faleceu dormindo.
Tenho certeza que o nosso MOA, pelo saldo dos prós e contras da sua vida, tem o seu lugar garantido no céu.
Mas peço aos amigos para fazerem uma prece. Não para o MOA, mas para São Pedro, porque ele vai necessitar de
muita paciência com o MOA por lá. Ele vai aprontar muitas e boas, com certeza.

Grande abraço

Texto: Osmar Baptista Silva
Colaboração: Jorge Naslauski e Ronald Monteiro

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