terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Despesa de R$ 300 mil por mês e nenhum uso. É o Maria Lenk

Quando os Jogos Pan-Americanos do Rio se encerraram, em 2007, autoridades políticas e esportivas proclamavam que a competição seria um marco, o início de uma revolução no esporte brasileiro, graças aos muitos projetos de desenvolvimento de jovens e promissores atletas que seriam iniciados nas instalações construídas para o evento. Dois anos e seis meses depois, as promessas não saíram do papel e quase nada foi posto em prática.

O Comitê Olímpico Brasileiro (COB) assumiu a administração do Parque Aquático Maria Lenk e do Velódromo em março de 2008, no mesmo complexo - cujo custo total de construção foi de R$ 100 milhões -, depois de um acordo com a Prefeitura do Rio, que queria se livrar do "elefante branco", que lhe gerava gasto de R$ 5 milhões anuais de manutenção.

O COB garante estar agindo para pôr o Maria Lenk em plena atividade. De acordo com o comitê, o complexo esportivo que engloba o parque aquático e o velódromo receberá investimentos de R$ 24,4 milhões para a implementação de estruturas que pretendem alçar os atletas a uma nova era. Trata-se do Laboratório Olímpico e o Centro Olímpico de Desenvolvimento de Talentos (CODT) - promessa do COB desde que assumiu os equipamentos.

Na assinatura do acordo de cessão - com prazo de 20 anos -, garantia o presidente do COB, Carlos Arthur Nuzman, que o Maria Lenk seria a sede de um centro de desenvolvimento dos esportes aquáticos. "Não podemos adiantar mais detalhes, pois vamos contratar consultorias internacionais especializadas para traçar um plano de gestão profissional do Maria Lenk. O que será feito o mais rapidamente possível", disse à ocasião o dirigente, também presidente do Comitê Organizador da Olimpíada de 2016.

Mais de 22 meses não foram suficientes para a conclusão e execução do plano. O Maria Lenk continua ocioso praticamente o ano todo. Neste momento, a seleção russa de nado sincronizado realiza um período de 15 dias de treinos no Maria Lenk, até porque o local, que deveria estar cheio de adolescentes, costuma ver suas dependências desabitadas. O COB diz gastar R$ 300 mil mensais para a manutenção do Maria Lenk e do Velódromo. Os custos são cobertos por recursos da Lei Agnelo Piva. Mas um levantamento feito pelo Estado, também no início de 2008, junto à Prefeitura, apontava que apenas o Maria Lenk consumia R$ 360 mil por mês e o Velódromo, outros R$ 80 mil mensais.

O COB informou, por meio da assessoria de imprensa, que o projeto do CODT já foi "aprovado pelo Ministério do Esporte, e está em fase de captação de recursos, por meio da Lei de Incentivos Fiscais", mas não estipula prazos para início das intervenções.

Marcus Vinícius Freire, superintendente executivo de esportes do COB, respondeu por e-mail: "É importante perceber que um projeto desse porte não pode ser feito de forma precipitada. O COB está criando um centro baseado nas melhores escolas internacionais. O CODT e o Laboratório Olímpico serão estabelecidos em alto padrão de excelência, para mensurar e apoiar com precisão o trabalho que deve ser realizado a cada ano na detecção e na preparação dos atletas brasileiros."

O COB informou também que em 2009 foram disputados no parque aquático o Troféu Maria Lenk, de 4 a 10 de maio, e o Campeonato Mundial Paraolímpico de piscina curta, de 22 a 26 de outubro. O que corresponde a 12 dias de utilização em todo o ano. Ainda segundo o COB, o calendário para este ano não foi fechado e a única competição prevista era o mesmo Troféu Maria Lenk. Mas o site da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) lista que a competição deste ano será realizada em Santos, entre os dias 4 e 9 de maio. Alertada pela reportagem, a assessoria do COB reconheceu o erro e confirmou que o torneio será mesmo realizado na Baixada Santista, o que deixa o parque sem nenhuma competição.

"A Barra da Tijuca é uma área que oferece muito pouco para as crianças iniciarem uma prática esportiva", comenta Sônia Hercowitz, supervisora de nado sincronizado da CBDA, referindo-se ao bairro que foi o coração dos Pan e será o centro nervoso dos Jogos Olímpicos. "É um pouco fora de mão. Por isso, preferimos continuar treinando no Júlio Delamare (no Maracanã). É mais fácil para as meninas, que também podem treinar a parte física nas academias próximas, pois o Maria Lenk não tem uma sala de musculação." Problema que deve ser solucionado quando as novas estruturas forem concluídas. A questão é saber quanto tempo tudo isso vai levar.

Um comentário:

Arthur disse...

O Brasileiro do Rio em abril vai ser no Júlio Delamare ou no Maria Lenk? Alguém sabe informar?